Introdução
Debruçar-nos-emos, em algumas páginas, sobre os elementos
que determinam o fenómeno do conhecimento. Tais elementos são o sujeito e o
objecto.
O trabalho irá constar de cinco partes fundamentais.
A primeira parte apresentará os elementos sem os quais não
se pode falar do conhecimento, bem como o que resulta do seu encontro: o
sujeito, o objecto e a imagem.
A segunda parte abordará sobre os problemas do
conhecimento, colocando em evidência os elementos básicos.
A terceira parte levará à superfície o fenómeno do
conhecimento.
A quarta parte falará do sujeito e do objecto do
conhecimento científico, como um campo restrito dentro do tema em abordagem.
A quinta e última parte apresentará a tese a defender, ou
seja, o que advogamos dentro do que foi proposto.
A preocupação de fundo é apresentar o ser humano como uma
realidade em constante busca da sua adaptação ao meio ambiente. Dessa
adaptação, resulta o conhecimento nos seus vários níveis.
Para o desenvolvimento do trabalho, apoiar-nos-emos em
algum material bibliográfico, como o de Johannes Hessen, e nas aulas
administradas pelo professor.
O Sujeito e o Objecto do Conhecimento
1. Elementos
básicos do conhecimento
O conhecimento humano tem dois elementos básicos: o
sujeito e o objecto.
O sujeito do conhecimento é o ser humano que, através dos
seus elementos cognoscentes, busca o objecto; o objecto do conhecimento é a
realidade com que a consciência se depara, e que lhe determina a ampliação do
horizonte. No entanto, não basta identificar o sujeito e o objecto do
conhecimento; é preciso fazer referência também às relações que se estabelecem
entre eles.
O campo da filosofia que nos apresenta a conexão concreta
entre o sujeito e o objecto é a gnosiologia.
Hessen define a gnosiologia em oposição à lógica: a
gnosiologia pergunta pela concordância do pensamento (sujeito) com a realidade
(objecto), e a lógica ocupa-se da coerência, em si, do pensamento (cf. HESSEN,
1987: 20). A oposição aqui referenciada não é em termos de contraditoriedade,
como entre ser e não-ser, em que há exclusão mútua; é, sim, em termos de
contrariedade, como entre homem e mulher, em que há complementaridade.
Portanto, a lógica e a gnosiologia são complementares.
2. Problemas
do conhecimento
O conhecimento constitui-se como um problema da relação
entre o sujeito cognoscente e o objecto cognoscível.
Existem, fundamentalmente, quatro problemas do
conhecimento: a possibilidade, a origem, a natureza e o valor.
2.1.Possibilidade
do conhecimento
A possibilidade do conhecimento opõe o cepticismo ao
dogmatismo. Enquanto o dogmatismo advoga a cognoscibilidade do objecto pelo
sujeito, o cepticismo distancia essa possibilidade (cf. HESSEN, 1987: 36-41).
Por outras palavras, no dogmatismo, o conhecimento é uma auto-entrega do
objecto ao sujeito, e, no cepticismo, uma relação. Portanto, implicitamente, as
duas posições admitem algum conhecimento.
2.2.Origem
do conhecimento
A origem do conhecimento opõe o empirismo ao
racionalismo. Enquanto o racionalismo vê no sujeito, entendido como a própria
razão, a origem do conhecimento, o empirismo sublinha a exclusividade do
objecto na determinação do conhecimento (cf. HESSEN, 1987: 58-78).
O pensador alemão I. Kant vê o conhecimento como um
produto que pressupõe a conjugação entre o sujeito e o objecto. Na sua opinião,
com a sensibilidade (objecto), recebemos as impressões, e com o entendimento
(razão), produzimos os conceitos.
2.3.Natureza
do conhecimento
A natureza do conhecimento opõe o idealismo ao realismo.
Enquanto o realismo admite um objecto independente do sujeito cognoscente, o
idealismo nega isso e advoga que o homem não conhece outra coisa senão as
próprias ideias.
2.4.Valor
do conhecimento
O valor do conhecimento opõe o relativismo ao
absolutismo. Enquanto o absolutismo defende que o valor do conhecimento é absoluto,
dado representar objectivamente a realidade, o relativismo sustenta que o
conhecimento tem um valor relativo, uma vez que é uma modificação subjectiva
criada pela consciência.
3. Fenomenologia
do acto de conhecer
O conhecimento é um fenómeno da consciência. Em tal
fenómeno, o sujeito e o objecto encontram-se frente a frente.
A relação constitutiva do acto de conhecer é dupla, ou
seja, consta de dois elementos, mas não é reversível, porque desempenhar o
papel de sujeito em relação ao objecto não é o mesmo que desempenhar o papel de
objecto em relação ao sujeito. A função do sujeito consiste em apreender o
objecto, e a do objecto, em ser apreendido pelo sujeito (cf. HARTMANN, 1945: 87-88).
O conhecimento pode ser definido do lado do sujeito e do
lado do objecto: do lado do sujeito, o conhecimento é definido como uma saída
do sujeito da própria esfera, uma incursão na esfera do objecto e um regresso à
própria esfera; do lado do objecto, o conhecimento é uma transferência das
propriedades do objecto para o sujeito. Neste último caso, o objecto é o
determinante, e o sujeito, o determinado.
Na verdade, no conhecimento, o que é determinado não é o
sujeito nem o objecto, mas a imagem do objecto contida no sujeito, que se
encontra além do sujeito e aquém do objecto (não representa efectivamente o
objecto).
4. O
sujeito e o objecto do conhecimento científico
O conhecimento varia de acordo com o grau de evolução:
mitológico, religioso, filosófico e científico. Destes, o grau mais elevado do
conhecimento é o científico.
O sujeito de todo o conhecimento, incluindo, obviamente,
o científico, é o ser humano; o objecto é a realidade. Portanto, o que
distingue o conhecimento científico de outras formas de consciência social não
são os elementos determinantes, mas o método.
5. Tese
a defender
O ser humano, ao se deparar com o mundo, ultrapassa-o,
construindo o conhecimento. Contudo, interessa apontar que, ao apresentar o
mundo como a realidade a conhecer, não excluímos, dele, o ser humano, que,
aliás, pode, igualmente, ser objecto do conhecimento.
Para além do sujeito e do objecto, há que fazer
referência necessária ao encontro entre os dois, ou seja, à imagem, que é a
interpretação do objecto pelo sujeito.
A realidade a conhecer não se deixa revelar facilmente, o
que determina a existência de várias formas de consciência social, a saber: a
consciência mitológica, a consciência religiosa, a consciência filosófica e a
consciência científica. De todas estas formas de consciência social, a mais
elevada é a científica.
No fenómeno do conhecimento, deparamo-nos com uma dupla
situação: a modificação do sujeito pelo objecto, como advogam os realistas, e a
modificação do objecto pelo sujeito, como sustentam os idealistas. No primeiro
caso, temos o sujeito que se modifica mediante um novo conhecimento e, no
segundo, o objecto que se modifica, ao receber algum sentido.
Conclusão
O conhecimento, em todas as suas manifestações, tem como
sujeito o ser humano, e como objecto, a realidade.
No contacto com a realidade, o ser humano constrói várias
formas de consciência social, como sejam a mitológica, a religiosa, a
filosófica e a científica. Destas formas, a mais elevada é a científica, que
consiste em descobrir as regularidades do objecto do conhecimento.
No discurso sobre o conhecimento, há que fazer referência
às teses que discutem em torno da centralidade e/ou não do sujeito e do
objecto. Assim, na possibilidade do conhecimento, o cepticismo opõe-se ao
dogmatismo, na origem, o empirismo ao racionalismo, na natureza, o idealismo ao
realismo, e no valor, o relativismo ao absolutismo.
O conhecimento é, ainda, definido como uma manifestação
da consciência, na qual encontramos uma relação dialéctica entre o sujeito e o
objecto.
Bibliografia
HARTMANN,
N., Les Principes d’une Metaphysique de
la Connaissance, Paris, Montaigne, 1945.
HESSEN,
J., Teoria do Conhecimento, Portugal,
Arménio Amado, 1987.
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